Quando as pessoas abrem a boca, deveriam ter um filtro de bom senso
Efetivamente há aqueles dias, em que tudo corre contra nós e que tudo o que nos dizem afeta mais do que num outro dia qualquer.
Em conversa sobre ferias e afins, eu, na minha estúpida inocência, respondi, que já que andei tantos anos a fazer e a mudar as minhas ferias para dar uma ajuda aos outros, que este ano não abdicava das datas que tinha marcado e que pela primeira vez em vários anos, ia tirar o dia 24 de dezembro (o que iria obrigar uma colega que nunca trabalha o dia 24, a trabalha-lo pela primeira vez em vários anos). Que me desculpassem, mas que essa semana seria para passar com a minha filha e o meu marido. Que como sabem ele não está cá, e que não me viessem com as conversas que 20 ou 30 dias por ano chegam perfeitamente, porque é diferente de ter sempre o marido cá permanentemente e que queria passar tempo com ele.
Ao que me respondem : mas a culpa de estarem assim é vossa e de mais ninguém.
Juro, que foi das coisas que mais me custou ouvir e apenas respondi : espero que nunca, mas mesmo nunca, tenhas de ponderar tomar uma decisão destas, para depois te dizerem que a culpa é apenas vossa de estarem assim.
Mas será que alguém acha, que uma pessoa se torna emigrante, deixa a esposa, deixa a filha, e vai para outro país, só porque sim? Mas acham mesmo??
Se a decisão foi tomada, foi porque efetivamente governar 1 casa, uma família, a pagar consultas, alimentação especial que infelizmente a filha precisa com apenas 1 ordenado, não é tarefa fácil. Se passamos fome? não passamos, graças a deus, mas era preciso uma ginástica terrivel para que nada faltasse em casa. O ordenado dele, vinha quando o rei fazia anos. E se fosse preciso, a conta gotas. Ainda hoje, passados quase 6 anos, ainda tem dinheiro nessa empresa e nunca o vai receber.
Mas não me digam, que foi porque quisemos. Se assim não fosse, se calhar o jantar e o almoço eram batatas com batatas. E nenhum de nós queria isso para a nossa filha.
Foi de longe, a decisão mais difícil que tomamos. E custa-me quando olham para mim e acham que tenho de me aguentar sempre a bronca e ser pau para todo o serviço e porque 1 vez em 18 anos, peço 1 dia, já sou isto ou aquilo. E o que mais me custa, é que o meu marido vem cácerca de 2 meses, repartidos durante o ano. E eu fico com ele, 2 semanas no verão + 1 semana no natal. Tirando isso, é só a noite. Para quem nunca está junto, será que as pessoas, podem, nem que seja, por uma vez na vida, deixar de olhar para o próprio umbigo e pensar que há pessoas que passam as passas do Algarve e que ás vezes, mas só as vezes, lhes ficava bem uma bocadito de compaixão.
É por estas e por outras, que cada vez prefiro mais os animais. As pessoas já me enervam.
Desculpem lá o desabafo, mas hoje, a disposição não é de todo, a melhor.