Talvez amanha
As vezes pergunto-me o que ando a fazer aqui.
Não digo aqui, nesta minha casita, onde escrevo o que me vai na alma, naquele preciso momento, naquela hora exata.
Pergunto-me o que faço no mundo. Não que sinta que não faço cá nada, ou que me sinta deprimida, nem nada disso.
Apenas pergunto o que faço aqui? Porque nasci aqui e não noutro sítio qualquer. Porque vendo viagens e não faço outra coisa qualquer?
Podia fazer outra coisa qualquer. Ser médica e procurar a cura para qualquer coisa importante. Podia ser escritora e escrever livros cheios de aventuras e romances carregados de emoção, daqueles que fazem chorar até os corações mais frios.
Podia viver numa grande cidade, onde podia ir ao cinema, ao teatro, passear a beira mar. Fazer jogging de manhã cedo, quando todos ainda estão a dormir.
Podia ter uma casa pequenina, num sítio isolado, onde pudesse ir sempre que precisasse de me encontrar. E onde me poderia refugiar a cada crise.
Mas não.
Nasci perto da serra onde nunca neva (mesmo que neve em Lisboa ou no Alentejo).
Tenho uma casa grande, com jardim, um cão, um gato e uma tartaruga. Tenho uma fila rabeta que me põe os cabelos em pé, ao mesmo tempo que é doce e carinhosa. Demoro 5 minutos a chegar ao trabalho e a escola. Tenho tudo para ser feliz.
Então, mas será que sou??
Quem sabe, um dia, eu perceba. Ou quem sabe, um dia eu descubra e aceite que já sei e sempre soube.
Talvez um dia.
Talvez amanhã.